As chupetas
podem interferir na
saúde bucal das crianças?
o mundo da Odontologia, é recorrente a discussão sobre os impactos que o uso da chupeta durante os primeiros anos de vida pode ter no desenvolvimento bucal das crianças. Pesquisas revelam que, embora as chupetas possam servir como uma ferramenta para acalmar ou pacificar os bebês, seu uso prolongado pode levar a problemas sérios de oclusão dentária e desenvolvimento oral.
De acordo com o artigo publicado pelos médicos Silvia Diez Castilho e Marco Antônio Mendes Rocha, a origem das chupetas aponta evidências de que essa é uma prática antiga que foi empregada desde o período neolítico para acalmar as crianças. Ainda naquele tempo, eram usadas bolinhas de pano que continham alimentos, de um tamanho adequado para que as crianças não as engolissem e tinham uma ponta pendurada para ser segurada ou atada à roupa ou berço.
Já as chupetas modernas tiveram origem a partir dos mordedores oferecidos às crianças por ocasião da erupção dentária, daí o nome “pacifier”, com a fun- ção de pacificar e acalmar os bebês, sendo utilizados diversos materiais como borracha, até chegar no látex, plástico e silicone, usado atualmente. Apesar de ser um item muito presente no enxoval dos bebês, ainda é um ponto a ser levantado quando falamos sobre saúde bucal na infância.
“Quando a chupeta é introduzida na rotina dos bebês ela traz impactos negativos no desenvolvimento do sistema estomatognático”, afetando a mastigação e deglutição.
Chupetas e mastigação
Segundo a Dra. Renata Orsi, presidente da Câmara Técnica de Ortopedia Funcional dos Maxilares do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), os bebês já nascem com reflexos adaptativos, de busca, de sucção e deglutição. Os reflexos de sucção estão presentes desde o útero, quando é possível observar o bebê sugando o dedo no ventre da mãe. Dessa forma, é comum que, após o nascimento, o bebê tenha o hábito de colocar as mãozinhas na boca. É através da boca que eles passam a conhecer o mundo.
A necessidade de sugar é nutrida por meio da amamentação, e é mais intensa no primeiro ano de vida. “Quando a chupeta é introduzida na rotina dos bebês ela traz impactos negativos no desenvolvimento do sistema estomatognático”, ressalta Dra. Renata.
O uso de chupetas pode afetar a mastigação de várias formas, no estabelecimento da função, dependendo do dano estabelecido na cavidade oral com mordida aberta, sobressaliência, língua baixa, atresia da maxila e hipotonia muscular, impedindo a correta movimentação do bolo alimentar, afetando a mastigação e deglutição.
Mudanças na boca
Além dos danos na mastigação, o uso de chupeta por um período prolongado pode causar alterações na arcada dentária, prevalência de mordida cruzada posterior e aumento da sobressaliência. É importante lembrar que esses danos podem persistir mesmo após a cessação da chupeta.
A partir dos 3 anos de vida, a chupeta tem um efeito ainda mais prejudicial no desenvolvimento da dentição das crianças. Entre as mudanças mais notáveis, se destaca um aumento na prevalência de mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior, largura intercúspide estreita do arco maxilar e palato alto e estreito. Quanto maior a duração do uso da chupeta, maior o potencial de resultados prejudiciais.
Relação com a fala
Além das questões que afetam diretamente a condição física da boca das crianças, o uso de chupeta também pode levar a prejuízos na fala, isso porque ela acarreta no desmame precoce e pode causar alteração da respiração, pelo uso habitual, fazendo com que o bebê passe a respirar pela boca. Através da respiração nasal, o ar é filtrado e adequado à temperatura corpórea, já na respiração bucal associada, isto não ocorre, podendo ter infecções de repetição.
A fala pode ter alterações causadas pelo uso de chupeta, pela inadequa- ção da posição e a motilidade da língua, em consequência das alterações promovidas pelo hábito da sucção não nutritiva, em especial por perí- odos maiores que seis meses de uso, segundo a Dra. Renata.
É importante ressaltar, também, que podem ocorrer piores condições oclusais nas crianças que usaram chupeta em comparação com as que receberam aleitamento materno exclusivo e nunca usaram chupeta. O uso de chupeta modifica a relação entre amamentação e estado oclusal.
Pesquisas revelam
que o uso prolongado de chupetas pode levar a problemas sérios de oclusão dentária e desenvolvimento oral das crianças.
CUIDADOS QUE OS PAIS DEVEM TOMAR
A chupeta pode ser usada em muitos momentos, especialmente como pacificadora durante crises de choro e desconforto do bebê, mas, se for ofertada, deve ser por curto período. Como dito anteriormente, é importante evitar a disponibilidade contínua, com uso de prendedores nas roupas do bebê, e evitar a oferta associada a rotinas do bebê. Dessa forma, o ideal é usar somente em situações esporádicas, quando os pais ou cuidadores optarem pela chupeta.
Além das questões de comportamento, outro ponto a ser considerado é que as chupetas devem ser higienizadas e esterilizadas, especialmente porque podem conter restos de alimentos que permanecem por maior tempo em contato com os dentes na cavidade oral, o que pode causar cáries ou lesões.
Quando levar a criança que usa chupeta ao cirurgião-dentista?
O acompanhamento com um cirurgião-dentista especializado em Odontopediatria é importante desde os primeiros meses de vida e deve ser feito a cada seis meses, mas sempre levando em consideração a indicação de cada profissional, para as orientações em cada período do desenvolvimento. Assim, o profissional poderá auxiliar e instruir as famílias e cuidadores sobre como prevenir e manter a saúde bucal do bebê.
Quando a criança estiver com má oclusão já está instalada, o cirurgião-dentista poderá aplicar a abordagem terapêutica mais adequada, possivelmente com o uso de reabilitação neuroclusal, com ajuste oclusal por desgaste ou acréscimo, como as pistas diretas Planas, para corrigir as mordidas cruzadas, abertas e a sobressaliência, a partir dos dois anos e meio a três anos de idade. Entre três anos e meio a quatro anos de idade são indicados os aparelhos ortopédicos funcionais para correções das más oclusões presentes em decorrência do uso de chupetas
Chupetas tradicionais e ortodônticas
Hoje, existem diferentes tipos de chupetas para os bebês, entre elas as chupetas tradicionais e as chamadas ortodônticas. As tradicionais têm um escudo em formato redondo com furos para ventilação, com o bico em forma redonda, que são confeccionadas em látex e já estão no mercado há muitas décadas.
Já as chupetas ortodônticas, segundo os fabricantes, são mais adequadas porque o bico é mais fino, achatado e côncavo na base e no tipo é curvado para o contato com os lábios, na tentativa de imitar o seio materno, ocupando menor espaço na cavidade oral do bebê.
Chupetas não são totalmente vilãs
É importante ressaltar que as chupetas não são 100% vilãs, tudo vai depender da duração, frequência e intensidade do uso. Quando retiradas até os seis meses de idade, as chupetas dificilmente deixarão consequências oclusais.
Em geral, é recomendado que se for ofertada a chupeta ao bebê recém-nascido, não exceda seu uso até os dois anos de idade, sendo que nesta fase já poderá haver alterações oclusais que na maioria dos casos não se autocorrige e necessitará de abordagem terapêutica, em casos de mordidas abertas persistentes e mordidas cruzadas posteriores


